sábado, 2 de abril de 2016

"Não façamos aos outros aquilo que não gostamos que façam a nós" por João Borralho

Esta semana foi apresentado na Assembleia da Republica um voto de condenação pela prisão de 17 ativistas angolanos. Primeiro que tudo, dizer que num mundo do Sec XXI a diferença politica não deveria ser pretexto para qualquer ato menos digno. Dizer ainda que pessoalmente, atenção, pessoalmente condenaria os atos, mas um voto aprovado pela Assembleia da República não seria mais do que uma acha para a fogueira.
As nossas relações com Angola, sabemos todos que não têm sido as melhores nos últimos tempos, e parece que continuarão assim. Angola é um Estado soberano, independente, e tem total autonomia para fazer aquilo que quiser. É certo que terá sempre uma forte ligação a Portugal, pela razão histórica de ter sido uma ex colónia deste nosso império lusitano. Infelizmente, o império também ele vai pelas ruas da amargura. Mas voltamos ao que interessa. Por Angola ter sido uma colónia portuguesa não quer dizer que enfiemos a nossa agulha em todos os botões que eles cozem.
Angola é um Estado independente, Portugal não tem nada que se meter nos assuntos angolanos, exceto aqueles que nos dizem respeito, coisa que este, está longe de nos dizer. A condenação de alguém a prisão por ter ideais políticos diferentes do regime diferente é sempre condenável, mas temos de manter o distanciamento político, e a diplomacia necessária para a boa convivência com os restantes países.
Imagine-se o que seria se em Portugal ocorresse o mesmo, e Angola viesse aprovar votos de condenação pelo que os portugueses faziam… Seria um intrometimento em assuntos nacionais, que só a nós nos diziam respeito. Pois agora, se Portugal aprovasse este voto de condenação, seria um intrometimento no regime e na justiça de Angola. Para não falar que o poder político português iria condenar o poder judicial angolano! (Então e a separação de poderes?)
Angola pode não agir bem, mas por ter sido território nacional, não quer dizer que possamos dizer, fazer e querer ditar tudo o que ocorre por lá. Porque como nós gostamos de viver num país em que ninguém se intromete nos nossos assuntos, também eles devem gostar do mesmo. Fazer uma declaração de atenção é uma coisa, fazer votos de condenação pelo órgão máximo do poder político em Portugal, é outra.
Se este voto tivesse sido aprovado, as relações ficariam ainda piores do que já se encontram, para já não falar no conjunto de reações que certamente desencadearia. Há que saber resolver os assuntos diplomaticamente, e não há força e com ímpetos radicais de quem quer por o nariz onde não é chamado.

Por fim, dizer mais uma vez que não estou a defender Angola, nem o que aconteceu, estou a defender a diplomacia, o bom senso e a sensatez. 

João Borralho
Criador do Lápis da verdade


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