terça-feira, 28 de junho de 2016

"O Brexit em 10 pontos" por Vasco Gonçalves

1. Qualquer que seja o futuro do projecto europeu, o dia 23 de junho ficará marcado como a nódoa que manchará para sempre a sua história. Pela primeira vez é invertida a lógica da integração, a única até hoje admitida, e desde sempre condição sine qua non e intrínseca à ideia de construção europeia iniciada há mais de 60 anos.
2. “Nós estamos com a Europa, mas não estamos nela. Estamos ligados, mas não comprometidos. Estamos interessados e associados, mas não absorvidos”. Churchill, 1929, sobre a posição Britânica relativamente à ideia de uma Europa Federal que Aristide Briand apresentara na Sociedade das Nações. Quase 90 anos volvidos a coerência do discurso Britânico relativamente à Europa mantém se  intacta e actual.
3. A grande derrota da União Europeia não aconteceu hoje, mas sim no momento em que 27 Estados Membros cederam e se vergaram perante o Reino Unido, abrindo-lhe a excepção de poder alienar o que para a UE sempre foi e teria de ser sempre absolutamente inalienável “Uma União cada vez mais estreita entre povos europeus”, ou seja a propria identidade europeia.
4. O precedente que Cameron abriu no Reino Unido terá inevitavelmente repercussões em todos os estados-membros da UE, com consequências demasiado graves nalguns deles. A cedência aos nacionalismos populistas e oportunistas exploradores do medo e do preconceito, que unem tanto a extrema esquerda como a extrema direita, prometendo como forma de ascensão ao poder a todo o custo, o regresso a uma falsa grandeza, que só a alucinação e a insanidade ideológica podem tornar verosímil.
5. Não poderá, em circunstancia alguma, haver margem para mais nenhuma Saída. Não há, nem poderá haver mais complacência perante um Estado-Membro que agora se divorcia após ter celebrado um raramente assumiu a sua quota de responsabilidade neste projecto comum. A UE tem, de uma vez por todas, de deixar de ser forte com os fracos e fraca com os fortes.
6. Trump sabe que o Barco a remos do Reino Unido não se aguentará sozinho no complexo  encrespado oceano da globalização competitiva e, por isso, já lhes lançou a escada de salvamento do seu Navio Pirata e içou a bandeira dos como próximo presidente dos EUA. Com o Brexit, o próximo primeiro-ministro britânico será inevitavelmente um homólogo de trump, um ferveroso conservador ultranacionalista, tendo assim Trump, o melhor e mais forte aliado para a sua eleição.
7. A nova (velha) Aliança Anglo-Americana que se perspetiva será a maior ao sistema de relações internacionais tal como o Aliados da 2ª guerra mundial. Nesse sentido a NATO, com a perspectiva da nova natureza intrinsecamente de defesa colectiva, para passar a ter um carácter maioritariamente de ofensiva militar, ao pior estilo, contra todos os que ousarem contra o eixo transatlântico.
8. Não deixa de ser, no mínimo irónico que a Europa que dos escombros da ergueu, graças à grandeza, à genialidade, à solidariedade então Primeiro- Ministro britânico, se encontre, hoje, em vias de ruir, pondo fim a 60 anos de paz e progresso, vendo-se reduzida ao egoísmo e à mediocridade e sordidez moral, intelectual e política dos seus atuais líderes, e de que o actual (e ainda) Primeiro- Ministro britânico é o mais ignóbil exemplo.
9. A UE tem de perceber que a força última de um Estado não reside nem na nem na sua conta bancária, nem em nenhum elemento de natureza financeira. Pelo contrário residirá sempre, para o bem ou para o mal, nas suas gentes e na ponta das suas espingardas.
10. De ora em diante o único caminho (ainda) possível que pode evitar o desastre absoluta é, provavelmente iniciado através de uma cooperação reforçada, o do aprofundamento da integração política, com verdadeiras sólida e democraticamente legitimadas, e que permitam a efectivação de uma verdadeira e autónoma política externa e de defesa e segurança comuns, aliada plena  económica e bancária, a uma união energética, e a uma união de mercados de capital, como forma de  aos grandes desafios da globalização e sobretudo garantir a estabilidade e o futuro da ordem global pós-moderna.
Em suma, podemos tardar em concordar no desenho do futuro, mas talvez seja mesmo preciso um medo consumado para nos consciencializar, de uma vez por todas, da ressurreição eminente do fantasma negro da história que nos trucidará a todos se não mudarmos o rumo que nos arrastou até aqui. Foi assim que há 30 nos se evitou a III guerra mundial, quando Americanos e Soviéticos perceberam que numa guerra atómica nunca haveria vencedores, só vencidos.

Vasco Gonçalves
Cronista habitual do Lápis da verdade


sábado, 25 de junho de 2016

"Brexit" por João Borralho

E ao raiar do dia de 24 de Junho de 2016, dia que ficará na história da Europa, heis que surge a noticia da saída do Reino Unido da União Europeia. O povo votou, o povo decidiu. A decisão é legítima, deve ser respeitada democraticamente como todas as votações. Pode-se discordar ou concordar com os eleitores britânicos, mas é legítima.
Coma saída do Reino Unido, não faço previsões proféticas de que a União vai terminar, que será o fim das relações europeias, não, considero que não é por o Reino Unido tenha saído que tudo tenha de terminar. Corremos evidentemente o risco de efeito dominó, hoje os britânicos, amanha estes, no outro dia aqueles. Isto claro, se a Europa não atuar em conformidade, se não mudar a sua forma de atuação.
A saída do Reino Unido espero que leve a que a Europa mude o seu paradigma, não estou a falar de acabar com medidas de austeridade, ou mais benevolência económica, porque não foi isso que levou os britânicos a votar a saída. Tem de mudar o seu controlo excessivo sobre alguns aspetos, para os britânicos a União Europeia era como que uma prisão, em que nada poderiam fazer sem pedir autorização. O mesmo se passa no nosso país, mas julgo que não estamos em posição de fazer exigências sobre o que for, assim sendo, a União tem de dar mais liberdade aos países, bem como adquirir uma política comum, para que realmente seja unida.
O resultado deste referendo é mais do que uma decisão, é uma chamada de atenção para a Europa, é uma chamada de atenção para o mundo. O povo britânico estava farto de se sentir súbdito de Bruxelas, os britânicos só são súbitos Sua Majestade e nada mais. Não sou daqueles radicais de extrema-esquerda que acreditam que estamos a perder a nossa independência, não, numa cooperação tem de haver cedências de ambas as partes, mas também pode e deve haver mudanças ao longo do tempo de modo a aperfeiçoar o projeto, neste caso Europeu.
O Reino Unido, espero que continue o seu caminho de prosperidade, construído por muitos governos, neste último pelo governo conservador de David Cameron. Podem não fazer parte da União, mas decerto contribuíram muito para ela, e decerto não foi com leviandade que votaram algo tão grave quanto isto. A decisão se foi correta ou não, só o tempo o poderá dizer, está tomada.
Não poderia deixar de referir neste artigo uma frase de Margaret Thatcher, que talvez tenha sido o sentimento de muitos britânicos quando votaram: "Put the great back into Great Britain!"

Por fim, God save de Queen, God save UK and all of Europe. 

João Borralho
Criador do Lápis da verdade