domingo, 6 de setembro de 2015

ESTADO DE RESIGNAÇÃO vs ESTADO SOCIAL por André Russo

      Não é ficção. Não foi o primo do vizinho que contou. Está à vista de todos: Portugal está pelas ruas da amargura e não serão o fado, o futebol ou a Nossa Senhora de Fátima, com o devido respeito aos três, que nos vão tirar desta situação. Podemos chorar e queixar-nos, mas isto já não vai lá, nem nunca foi, com lamentos.
     O estado do país é de emergência social, e nem por isso as pessoas levantam os ânimos. Portugal tornou-se numa gigante sala de espera, como a de um centro de saúde ou repartição das finanças: rostos cinzentos, cabisbaixos, à espera. À espera e indignados com a espera, no entanto, assim continuam. Para outros, estes cíclicos governos já mataram a esperança faz tempo. E por isso, esses encontram-se num sub-estado: o estado da resignação. Um estado que petrifica o pensamento, que imobiliza a vontade de ação. Quem nunca ouviu repetidas vezes as frases que “norteiam” os que vivem neste estado: “vai-se andando” e “para pior já basta assim”? É o estilo de vida “cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas”, já dizia o outro, sem trabalho e sem direitos, sem vontade de pensar e agir.
     Não venho com manifestos eleitorais debaixo do braço. Não venho com frases feitas e projetos políticos na ponta da língua. Trago comigo a vontade de fazer a mudança e essa mudança sim, quero passá-la ao maior número de pessoas. Chegou a altura de juntarmos esforços e ousarmos, no sentido metafórico, passar à frente de toda a fila na sala de espera, porque estamos fartos que adiem a resolução dos nossos problemas.
     Vejamos os números do desemprego. São falaciosos. A emigração, os contratos emprego-inserção e o subemprego andam aí. E todos eles contribuem para que esses números sejam falaciosos. O crescente número de emigrantes significa que há postos de trabalho que não precisam de ser garantidos, visto que há menos pessoas a procurá-los (em Portugal). Mas o desemprego não desceu. Outros “trabalham precariamente” (nem deveria chamar-se trabalho), porque pelo menos assim, acreditam os que estão a receber o subsídio de desemprego, sempre saem de casa e
sentem-se úteis. Mas isso não chega a ser um trabalho e o desemprego não desceu. E ainda outros que têm de trabalhar um dia inteiro, cumprindo o lugar de dois postos de trabalho, para depois ao final do mês receberem uns tustos. Porque o desemprego não desceu. Importante lembrar: o trabalho não é um prémio, o trabalho é um bem vital.
    Já na escola, os alunos passam o dia na sala de aula: um dia bem longo, com horários desumanos e pouco flexíveis. No entanto, parece que nem esse tempo é suficiente para se falar de assuntos que dizem respeito a todos. Crianças de hoje, adultos de amanhã... (escrito sem lirismo). Já dizia o outro (o mesmo de há pouco) que “de pequenino se torce o destino”, e embora tenha sido uma brilhante apropriação do provérbio, acredito que o destino é que vai torcer o pequenino.
    Resta às crianças e aos jovens a competição. Aprender depressa. Tudo e muito. Mostrar resultados, para depois não terem nada e saberem muito pouco. Mas o objetivo é mantê-los ocupados com isso. Quanto menos pensarem ou refletirem sobre o que os rodeia, em menos chatices a comunidade educativa e o governo ficam implicados. E onde fica a reflexão? A discussão? Escapa muita coisa ao sistema educativo. De louvar o trabalho de alguns professores que ainda fazem a diferença. Agora que olho para trás e penso que não fui criança assim há tanto tempo (à escala universal), também me escaparam algumas coisas...não me lembro de terem sido abordados assuntos ou ideias importantes sobre a atualidade em Formação Cívica ou Área de Projeto... Ouvia-se dizer que poderia haver Educação Sexual na escola, mas esse assunto tresandava a tabu. Mais uma vez pode-se falar no “estado de resignação”, desta vez, por parte da comunidade escolar e do governo. E cá se vai andando!
     Fala-se muito na inevitabilidade do estado atual do país. Que foi inevitável o rumo que o país tomou nestes últimos quatro anos. E as pessoas tomam isso como um analgésico que alivia a dor por momentos, porém não cura a lesão. Não se pode aceitar que a miséria seja inevitável. Não se pode aceitar que o governo continue a empurrar jovens e famílias para o estrangeiro e que depois num volte-face os queira de volta com um sorriso cínico. Não se poder aceitar que os alunos sejam apenas números, alheios ao que os rodeia. Não se pode aceitar que o preconceito
impere.
Querer-se um estado social pleno e saudável não é uma utopia, ou um devaneio, como muitos alegam ser. É um princípio.


André Russo, 26 anos
Candidato independente pelo Bloco de Esquerda – Círculo Eleitoral de Évora




quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Acreditar é possível por Rui Oliveira


      Vivemos tempos de incerteza: incerteza no futuro e incerteza no presente. Esta melancolia generalizada, é fruto de uma governação desastrosa, onde a ténue linha da esperança foi aniquilada politicamente por um governo, que durante quatro anos, matou os sonhos e destruiu as ambições de crescimento de um país.
       A refutada tese da TINA (There Is No Alternative), levada a cabo pelos protagonistas Passos Coelho e Paulo Portas, foi ganhando raízes, assentes em cabais mentiras que dificilmente serão desmontadas pela esquerda democrática. Durante quatro anos, os portugueses foram levados a acreditar que não havia outro caminho a seguir que não o da austeridade; que o programa da Troika era para cumprir até à ultima linha; que a tão famigerada bancarrota causada pelo Partido Socialista, era a causa atendível para todos os males tidos como necessários aplicar, para aplicar a receita ideológica de uma agenda escondida.
      A direita, pelas mãos e políticas dos "suspeitos do costume", encontrou nas suas falácias e falsas promessas, terreno fértil para propalar as medidas que foram além da Troika. Fizeram-nos crer, que o programa de assistência financeira, era para ser cumprido na íntegra (curioso como desde o memorando original o tratado financeiro assinado com a Troika tenha sido alterado sete vezes! Sete!) sem dar cavaco (curiosa expressão) aos portugueses.
      Este governo caiu em desgraça e embora não dando muita importância a sondagens, e já que elas existem, então destaco uma efetuada recentemente (08/07/2015) pela TVI, em que 73,3% dos portugueses consideram que a situação do País é má; 52,3% considera que a situação está muito pior do que há quatro anos; 55,4% responsabiliza o atual governo pelo agravamento das condições de vida. E podia continuar. Então, qual é a proposta do PS para uma alternativa de confiança? 
      Desde logo, recuperar a confiança do eleitorado, criando as condições necessárias para a geração de oportunidades de emprego, nomeadamente através do investimento no conhecimento e na inovação, no combate à precariedade, ter políticas ativas de emprego centradas na criação do emprego efetivo bem como de criar um contrato-geração que assegure a solidariedade entre as diferentes gerações.


      Mas não ficamos por aqui: queremos diversificar a oferta formativa e valorizar o ensino profissional no ensino secundário, retomar a educação de adultos e a formação ao longo da vida. Combater a precariedade, com a diferenciação das contribuições da entidade patronal para a segurança social em função da natureza do contrato: agravadas, se precária; reduzidas, se – e só se – definitiva. Do mesmo passo, limitar fortemente a possibilidade de contratação a prazo, valorizando o mútuo acordo na rescisão contratual de modo a limitar os riscos de litigância, sem limitar a proteção judicial contra despedimentos sem justa causa ou sob coação. A redução do IVA da restauração será ponto assente a ter em conta porque não é possível continuar com esta política errada de asfixiamento fiscal, que condena muitos portugueses ao drama do desemprego. 
      Perante isto e muito mais, torna-se urgente mudar a página governativa do país, e votar numa verdadeira alternativa de confiança, que devolva a confiança num futuro melhor. Essa alternativa é assumida frontalmente por nós e por isso afirmo: acreditar é possível. Basta querer e mobilizarmo-nos para isso.
Rui Oliveira 
Trabalhador do setor turístico no Porto. Militante do Partido Socialista ; Membro da Comissão política Concelhia do PS Porto; Membro do PSE. Escreve regularmente no blog : a voz da girafa.
Recentemente entrou para a JCI( Junior Chamber International) a maior organização mundial de líderes e empreendedores. É voluntário no GAS Porto. Antigo militante da Juventude Socialista.
Participa regularmente em conferências e programas de opinião pública como é o caso da SIC notícias
Membro da comissão de apoio distrital (Porto) da candidatura de Sampaio da Nóvoa