O estado do país é
de emergência social, e nem por isso as pessoas levantam os ânimos. Portugal
tornou-se numa gigante sala de espera, como a de um centro de saúde ou
repartição das finanças: rostos cinzentos, cabisbaixos, à espera. À espera e indignados com a
espera, no entanto, assim continuam. Para outros, estes
cíclicos governos já mataram a esperança faz tempo. E por isso, esses
encontram-se num sub-estado: o estado da resignação. Um estado que petrifica o
pensamento, que imobiliza a vontade de ação. Quem nunca ouviu repetidas vezes
as frases que
“norteiam” os que vivem neste estado: “vai-se andando” e “para pior já basta
assim”? É o estilo de vida “cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas”,
já dizia o outro, sem trabalho e sem direitos, sem vontade de pensar e agir.
Não venho com
manifestos eleitorais debaixo do braço. Não venho com frases feitas e projetos
políticos na ponta da língua. Trago comigo a vontade de fazer a mudança e essa
mudança sim, quero passá-la ao maior número de pessoas. Chegou a altura de juntarmos esforços e
ousarmos, no sentido metafórico, passar à frente de toda a fila na sala de
espera, porque estamos fartos que adiem a resolução dos nossos problemas.
Vejamos os números
do desemprego. São falaciosos. A emigração, os contratos emprego-inserção e o
subemprego andam aí. E todos eles contribuem para que esses números sejam
falaciosos. O crescente número de emigrantes significa que há postos de trabalho que não
precisam de ser garantidos, visto que há menos pessoas a procurá-los (em
Portugal). Mas o desemprego não desceu. Outros “trabalham precariamente” (nem
deveria chamar-se trabalho), porque pelo menos assim, acreditam os que estão a
receber o subsídio de desemprego, sempre saem de casa e
sentem-se úteis. Mas
isso não chega a ser um trabalho e o desemprego não desceu. E ainda outros que
têm de trabalhar um dia inteiro, cumprindo o lugar de dois postos de trabalho,
para depois ao final do mês receberem uns tustos. Porque o desemprego não desceu.
Importante lembrar: o trabalho não é um prémio, o trabalho é um bem vital.
Já na escola, os
alunos passam o dia na sala de aula: um dia bem longo, com horários desumanos e
pouco flexíveis. No entanto, parece que nem esse tempo é suficiente para se
falar de assuntos que dizem respeito a todos. Crianças de hoje, adultos de amanhã... (escrito
sem lirismo). Já dizia o outro (o mesmo de há pouco) que “de pequenino se torce
o destino”, e embora tenha sido uma brilhante apropriação do provérbio,
acredito que o destino é que vai torcer o pequenino.
Resta às crianças e
aos jovens a competição. Aprender depressa. Tudo e muito. Mostrar resultados,
para depois não terem nada e saberem muito pouco. Mas o objetivo é mantê-los
ocupados com isso. Quanto menos pensarem ou refletirem sobre o que os rodeia, em
menos chatices a comunidade educativa e o governo ficam implicados. E onde fica
a reflexão? A discussão? Escapa muita coisa ao sistema educativo. De louvar o
trabalho de alguns professores que ainda fazem a diferença. Agora que olho para
trás e penso que não fui criança assim há tanto tempo (à escala universal),
também me escaparam algumas coisas...não me lembro de terem sido abordados
assuntos ou ideias importantes sobre a atualidade em Formação Cívica ou Área de
Projeto... Ouvia-se dizer que poderia haver Educação Sexual na escola, mas esse
assunto tresandava a tabu. Mais uma vez pode-se falar no “estado de
resignação”, desta vez, por parte da comunidade escolar e do governo. E cá se
vai andando!
Fala-se muito na
inevitabilidade do estado atual do país. Que foi inevitável o rumo que o país
tomou nestes últimos quatro anos. E as pessoas tomam isso como um analgésico
que alivia a dor por momentos, porém não cura a lesão. Não se pode aceitar que
a miséria seja inevitável. Não se pode aceitar que o governo continue a empurrar
jovens e famílias para o estrangeiro e que depois num volte-face os queira de
volta com um sorriso cínico. Não se poder aceitar que os alunos sejam apenas
números, alheios ao que os rodeia. Não se pode aceitar que o preconceito
impere.
Querer-se um estado
social pleno e saudável não é uma utopia, ou um devaneio, como muitos alegam
ser. É um princípio.
André Russo, 26 anos
Candidato independente pelo Bloco de Esquerda – Círculo Eleitoral de Évora