O povo socialista clama vitória em tudo, até dá aleluia aos céus, os bloquistas reclamam as vitórias para eles, os comunistas estão a ver
que estão enfiados numa coisa de que do mal, o menos, e a direita assiste
impávida e serena. É assim que os partidos reagem às últimas notícias e
decisões tomadas pelo executivo a propósito do Orçamento de Estado, e, não só.
Comecemos por aí, o Orçamento de Estado para 2016, ou a bem
dizer, só para alguns meses, é que com trocas e baldrocas de governo, já vamos
em fevereiro e o assunto ainda agora começa a ser discutido. Bom, muito se
disse, muito se escreveu, mas o Orçamento lá passou na Comissão Europeia, e
claro, a esquerda clama uma vitória sobre a Europa da austeridade. Eu devo
dizer que ouço isto com alguma piada e confesso que solto uma gargalhada. Um
país que faz parte da União Europeia, tem acento legítimo na comunidade e nas
suas instituições, como pode dizer que ganhou contra a Europa? Isto é alguma
guerra? Mas curioso, é que é uma guerra em que Portugal joga dos dois lados,
tanto faz parte do inimigo como do hipotético vencedor. É uma atitude que em
nada eleva a política nacional, nem o debate público. Como é que um europeísta
pode aceitar que se diga que Portugal ganhou à Europa fazendo parte dela? Só
alguém que “joga” na política por vitórias por poucochinho poderia proferir
tais palavras.
Continuando dentro do Orçamento, e agora sem todo o Show
politico que existe à sua volta. A esquerda, mais uma vez anda com “o virar da
página da austeridade” na lapela, e diz que este orçamento é um virar de
página, sem austeridade e sem prejuízo e dificuldades para os portugueses. É
mentira. Um orçamento que reduz umas coisinhas aqui, mas como diz o povo e bem,
dá com uma mão e tira com a outra. Vejamos por exemplo o aumento das taxas e
impostos sobre os condutores, e os combustíveis. Ora quem no seu perfeito juízo
pode achar que se aumentarmos isto não é austeridade? Pode não ser um importo
direto é verdade, mas o peso sobre o rendimento de cada português é bem grande,
a maior parte dos portugueses precisa de um automóvel para se deslocar, ao
fazê-lo terá um aumento nos seus combustíveis e imposto de circulação, ora
digam-me lá se isto não é de facto um aumento de imposto ainda que indireto? E
vejamos outro caso em concreto que a esquerda também clama vitória e canta
glória aos sete ventos, o aumento de impostos sobre a banca. Sim aumenta-se os
impostos sobre a banca, e um cidadão pensa “os bancos que paguem”, pois bem,
não é bem assim, porque quem é que é o “consumidor” da banca? Os cidadãos. Ora,
já sabemos que a taxa de utilização de cartões de crédito e débito aumenta, e
quem é que paga esse aumento? Os utilizadores deste serviço que é grande parte
do povo português em boa verdade.
Isto foram apenas dois exemplos práticos de como a ladainha
do fim da austeridade é mentira, pode ser diferente, agora é “austeridade de
esquerda”, mas não deixa de ser austeridade. Mas a esquerda lá clama vitória.
Ora quem passa de “austeridade de direita” para “austeridade de esquerda”, só
pode ser alguém que se contenta com vitórias por poucochinho…
E no ponto seguinte surge o hino deste governo “ palavra
dada é palavra honrada”, ou pelo menos meia palavra, como já se viu no
orçamento e como se vai ver no caso da reversão da privatização da TAP. Ora toda
a gente diz aquele “hino” quase messiânico e profético, uma coisa quase cheia
de carácter para quem não o teve o passado, pensará “este governo cumpre com a
sua palavra”. Outra mentira, só cumpre com meia palavra. Em campanha eleitoral
a esquerda prometia reverter a privatização da TAP em que a maioria do capital
seria público, viemos a saber que afinal será metade, ora afinal a palavra foi
honrada ou não? Em boa verdade podemos dizer que foi meia honrada, mas não foi
na sua totalidade. Mais uma vitória por poucochinho….
Um governo cheio de vitórias que afinal não são vitórias, ou
são vitórias por poucochinho, uma esquerda unida em fazer vitórias pequeninas e
em derrotar a Comissão Europeia como se fosse um bicho papão, e ainda temos uma
direita que aguarda serenamente novas eleições e prepara o terreno para as
ganhar. Vitórias por poucochinho ou pesadas derrotas eleitorais é o que temos
assistidos nos últimos meses para o lado da esquerda, creio que as vitórias por
poucochinho serão quase uma ironia do destino. Como diz o povo e bem, pela boca
morre o peixe…
João Borralho
Criador do Lápis da Verdade
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