A incoerência de se pedir acordos incoerentes àqueles que
foram afastados do governo por um ímpeto de poder pessoal, é deveras
interessante e um caso de estudo.
António Costa diz-nos nesta semana, surpreendentemente, se é
que haverá mais surpresas que ele possa criar, que gostaria de ter o PSD e o
CDS como parceiros para “amplos acordos políticos”. Esta posição tenho que
reconhecer é de um certo consenso político e de abertura e espírito democrático
que é sempre de louvar em qualquer momento, ainda que não se tenha tido no
passado.
Ora o Primeiro-ministro pede a ajuda do PSD e do CDS para
acordos políticos, até aqui tudo bem, mas fá-lo de uma forma desprezível,
dizendo que “é preciso respeitar um certo luto que a direita tem de fazer para
se tornar um parceiro mais ativo”, como que numa posição de gozo por ter
afastado, aqueles que ganharam as eleições do poder, estivessem a morrer ou a
enlutar o poder que lhes foi retirado. A ideia de consensos até é boa, mas a
frase seguinte, deita por água abaixo e deixa a nu que Costa só o disse para
parecer bem… Aliás não poderia ser de outra forma, então não foi Costa que
derrubou o governo do PSD e do CDS com 11 dias? Agora queria acordos com eles
quando andou dias e dias a encontrar-se após 4 de outubro com os mesmos, mas
parecia que desfilava numa passarela em que se mostra os vestidos e volta-se
para trás com 2 segundos de fama e nada mais se quer.
Agora faltava a resposta. E Passos Coelho lá a deu. O líder do
PSD, que encontra-se um pouco apagado, e até de alguma forma escondido nos
bastidores do partido, talvez para renovar a sua imagem perante o povo português,
respondeu à incoerência de Costa, com alguma coerência. Dizendo que "não
nos venham exigir, em nome do nosso sentido de responsabilidade, que apoiemos
os programas que querem reverter tudo o que fizemos e culpar-nos de todo o mal
que existe no país, isso não". Ora bem, Passos mostra posição de força e
neste caso bem. O governo de António Costa está a desfazer o que Passos fez,
como é que agora Passos iria acordar algo com António Costa? Era no mínimo caricato
e mais uma vez incoerência. E dizer ainda que o governo não é suporto pelo PSD
e CDS, mas sim pelo PS, BE, e CDU. Será este um início de piscar de olho à
direita quando a esquerda faltar a Costa? Poderá ser, mas julgo que Costa quis
sair bem na fotografia, para depois poder dizer: eu estava disponível, eles é
que não. Ainda assim Passos, depois aproveitou a situação e saiu bem na
fotografia também. Mostrando uma posição de força, de que “nós não deixamos
cair as nossas bandeiras e princípios”.
Será isto tudo uma enorme incoerência? Ou será isto tudo uma
coerente demonstração de força e de show politico para cativar votinhos aqui e
ali? Julgo que será mais a segunda opção, ainda que ache que todo este
espetáculo é claramente, também ele, uma grande incoerência… Porque quem cospe
no prato dos outros, não pode vir agora pedir uma tigela de sopa quente.
João Borralho
Criador do Lápis da Verdade
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